Março de 2021. Ou 2020 parte 2. Por volta de um ano de lockdown voluntário.

Eu tenho 40 anos. Quarenta. Isso pode ser considerado um bocado de vida e de experiências. Mas os anos mais recentes foram de um impacto tremendo na minha vida e em quem eu sou. 2020 foi desesperador, mas trouxe também muitas renovações.

Esse texto é uma tentativa de materializar os impulsos, anseios e desejos que estão pipocando em mim. Quero falar sobre muita coisa, mas ao mesmo tempo fico bloqueado por um desejo de fazer certinho, de dar a atenção devida e levar o tempo que é necessário para cada assunto. Vê? A chave então é deixar fluir, caso contrário nunca conseguirei.

Preciso falar de amizades. Sobre como tenho pessoas importantíssimas na vida. Sobre minhas amizades que semanalmente trocamos mensagens pra ver como a vida está, compartilhar uma felicidade ou uma dor, lamentar pelos tempos atuais, e sonhar com reencontros e experiências. Sobre as amizades que se foram, mas que talvez nunca realmente estiveram aqui. Eu entendo que tudo tem um tempo, que certos eventos acontecem para nos ensinar e ajudar a melhorar, mas fica aquele vazio de … calma… é um vazio mesmo? Ou é como uma grande caixa no meio da sala que eu tento arrumar? É, essa analogia faz mais sentido. São pessoas que não tenho mais contato mas estão presentes, ocupam o espaço, mas eu não consigo muito mais do que encontrar um cantinho e deixar ali guardado. E tem as amizades que são uma mistura dos dois: existe muita vontade de conexão novamente, mas a vida aconteceu. Ou a morte — simbólica ou não.

Eu sempre lembro de todos. O que muda ao longo do tempo é a forma como eu me relaciono com essas lembranças. Aquela mensagem corrida de texto (ou voz) no Whatsapp (ou Telegram) materializa sentimentos, assim como reflexões lidam com o que não está mais presente. Nossa, tenho muita saudade mesmo da Dona Zezé e da Dona Silvia, foram duas mães que tive em São Paulo, e suas palavras sempre estão comigo. Acho que o João Paulo daqueles tempos não conseguia entender tão bem suas palavras ainda, ou esse tempo todo serviu para refinar os conselhos e lições. Em contrapartida, tento sempre entender como as coisas poderiam ter sido diferentes com a Sol, com a Gabi, com a Nath, com o Nonato, com a Elane, com o Cumaru… porra, a lista vai, né? E cada história com suas particularidades, reviravoltas e responsabilidades. Em muitos momentos não é justo atribuir a culpa a mim, mas isso não torna as situações menos favoráveis para aprendizados. Foi a forma como as pessoas também encontraram para lidar com si mesmas. Com algumas dessas pessoas sinto uma falta fodida pelas trocas e conversas, e às vezes fantasio esses filmes de reencontros depois de décadas. Quiçá sejam apenas fantasias mesmo.

Ao longo do tempo, aprendi muitas lições que servem de parâmetro para avaliar o que estou fazendo. Duas das mais relevantes e recentes foram essas aqui: Se eu peço algo para alguém, e fico com um sentimento ruim caso a pessoa negue ou esteja impossibilitada, eu não estava pedindo, estava demandando; e se eu estou na dúvida das motivações sobre o que estou fazendo, se é vaidade ou bondade, devo me perguntar “É fraterno?”. O que quero dizer com isso é que eu tento sempre ser um JP melhor do que o de ontem, para as pessoas que me cercam e para um mundo necessitado. Então, sim, estou em uma busca constante em não ser o cuzão que já fui.

Muito disso vem de estar cercado das pessoas que nos ajudam a ser melhores também, seja literal ou figurado. Eu sou um privilegiado em ter a companhia da Luna, poder falar de tudo e compartilhar todos os medos e desejos. Em breve teremos o Max também, estou super ansioso para auxiliar na jornada de molequinho que não para quieto na barriga da mãe. E a presença de todas as amizades, que são demais para listar aqui. Mile, Mário, Aline, Vanessa, Kahena, Ron, e a lista segue!

Poxa… peraí… vou mandar uns áudios aqui pras pessoas e já volto a escrever.

Pra onde vai tudo isso?

Voltei. Falei com amigas e amigos. Falei com a família. A satisfação e o bem-estar que vem depois dessas conversas são fenomenais. Acho que tudo isso ajudou a aliviar um pouco o coração. Talvez o bloqueio criativo também tenha fraturado um pouco, talvez tentarei desenhar mais tarde.

Nem falei da pandemia, né? São três mil mortes por dia no Brasil. Por dia. É muita gente! Ainda não tive nenhuma perda muito próxima, mas é foda saber que tem muita gente sofrendo. É um sentimento misto de raiva, desespero, medo e ansiedade nesse genocídio que está acontecendo no Brasil. Mas vamos seguir nos cuidando e fazendo o possível para sobreviver.

Fica bem!

Deixe um comentário