“Não é o que você fala, mas o jeito que você fala!”

Em 2019 eu me esforcei muito para entender o que as pessoas queriam dizer com isso. Principalmente porque baseava minha comunicação naquele pensamento “Eu sou responsável pelo o que eu falo, mas não pelo o que você entende”, além de orientar meus discursos de forma sucinta e direta. Enquanto eu acreditava que estava ia direto ao ponto de forma impessoal, as pessoas me percebiam como grosso. Obviamente, deu ruim!

Após um conflito decorrente de mal entendidos e gatilhos não conhecidos, eu fiquei muito mal emocionalmente, de verdade. Me sentia a pior pessoa do mundo, não queria mais conversar com ninguém porque minha fala tinha o poder de ferir. E eu também não sabia mais como agir, porque todos os protocolos profissionais que conhecia não eram capazes de me apontar o que fiz errado. É horrível isso! Depois de tantas vezes passando por conflitos menores pelo mesmo motivo, esse foi o meu “basta!”.

Lembrei de uma amiga querida que me contou sobre seus aprendizados em um curso de comunicação não-violenta (CNV). “Boa parte dos conflitos é porque as pessoas não sabem escutar, nem pedir”, ela revelou. Foi um longo bate-papo, mas que ficou guardado aqui dentro. Pelo sofrimento, resgatei as palavras dela e fui atrás de uma solução mais drástica para o meu comportamento comunicativo.

Comecei a procurar material sobre CNV, incluindo imersões e eventos. Minha namorada me viu nessa agonia e disse que tinha o livro do Marshall B. Rosenberg. Logo nas primeiras páginas, lembrei que o Meteoro já havia tocado no assunto. Todos os pontos estavam se amarrando na minha cabeça! Como tem muito material disponível online, compartilharei as mudanças que ocorreram na minha vida.

De início, a principal mudança foi a conexão empática. Empatia pode ser treinada, é uma habilidade adquirida, porém o que você faz com essa habilidade é tão importante quanto como você a desenvolve. Eu me julgo uma pessoa empática (e alguns testes se propõe a quantificá-la), entretanto eu não conseguia usar isso na minha comunicação. A CNV é baseada em fatos, e ensina que uma das primeiras ações que você pode tomar é observar sem julgamentos, escutar ativamente, e em seguida entender quais as necessidades que a pessoa tem.

Hoje em dia é bem comum me ver tomando goles d’água na minha caneca Overwatch (e só conto isso porque ela é grande) enquanto escuto as pessoas —ao mesmo tempo que me impede de interromper a pessoa por impulso, é como um hack que me dá tempo para ouvir e observar melhor a pessoa enquanto fala. Uma simbologia para beber as palavras com calma. Tento observar quais as emoções presentes (alegria, tristeza, raiva, medo, supresa ou aversão), e como as palavras que ela usa podem ajudar a identificar a raiz das emoções.

Nos próximos passos, a CNV ensina a entender as necessidades do outro, e identificar um pedido claro e específico. Se ao observar a linguagem corporal , o discurso, e me conectar às emoções eu identifico que a pessoa está insegura e na defensiva, posso inferir que as necessidades estão orientadas a buscar um contexto de segurança e conforto. Então o que está causando insegurança e desconforto agora? A melhor forma é pedir para que a própria pessoa seja mais específica sobre isso. A CNV tem um princípio bacana que é “O que eu posso fazer para ajudar a tornar a sua vida maravilhosa?”. Então, na hora de pedir mais clareza, eu me livro de julgamentos — porque julgamentos colocam as pessoas na defensiva e estraga tudo — e peço ajuda para entender o que ou como eu posso ajudá-la.

Duas lições que aprendi nesses exercícios: Entrar no automático durante as comunicações é a principal causa de julgamentos, então tenho aplicado técnicas de mindfulness para me manter no momento (controlar a respiração o a técnica da água, por exemplo). E quanto mais praticamos os passos da CNV, mais autoconhecimento desenvolvemos. O motivo é que aprendemos a nos conectar com as próprias emoções e necessidades para verbalizar o que precisamos, e isso é poderosíssimo! Atender sessões de terapia pode ajudar muito nesse ponto, porque pode ser doloroso entender as origens dos comportamentos. Mas a primeira vez que você consegue verbalizar um pedido muito específico e livre de julgamentos é libertadora.

“Quando me sinto indesejado, eu me isolo em sinal de respeito e para não agravar os conflitos. Mas gostaria da oportunidade para entender e corrigir comportamentos que geraram o afastamento entre nós, porque sinto falta da nossa amizade. Quando você quiser, podemos conversar?”

Por enquanto é isso! Há muito mais para se aprender sobre CNV, e eu só dei meus primeiros passos. Ainda me culpo muito por entrar no automático sem perceber, mas é algo que deve ser praticado a cada nova conversa eu tiver. E espero daqui um tempo trazer novas histórias e aprendizados aqui para meu cantinho de textos.

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