Durante minha graduação em Design na Universidade de Brasília (nos tempos que ainda se chamava Desenho Industrial) conheci uma das disciplinas mais significativas para minha carreira: Ergonomia, com a Dra. Júlia Abrahão. 

É meio óbvio falar que uma disciplina de graduação é muito importante para a carreira. Assim como alguns aprendizados nessa aula eram muito óbvios para mim: se você colocar uma pessoa para realizar um trabalho com uma má-postura ou condições insalubres, ela adoecerá!

Ah, mas a obviedade é ardilosa e sedutora. Ela pode sussurrar de mansinho “Você já conhece isso, não se preocupe!”, e fazer com que seu julgamento e sua análise sejam superficiais. Daniel Kanehman revelou que pensamos de duas formas, uma automática constantemente atacada por vieses cognitivos, e uma lenta e cautelosa, que emprega mais energia e raciocínio. E o trabalho da Amy E. Herman mostra como detalhes importantíssimos passam despercebidos caso não olhemos com atenção, sem nos permitir entender o que está diante de nossos olhos.

Durante as aulas de Ergonomia eu percebi que enxergava detalhes que as outras pessoas não viam tão rápido ou facilmente. Uma das atividades mais básicas era a análise ergonômica do trabalho (AET), em resumo uma observação sistematizada do indivíduo durante a execução da sua atividade. Na prática, era constatar que a pessoa dava uma “viradinha” de 50º com a cabeça para olhar o monitor da esquerda mais de 10.000 vezes durante a jornada de trabalho, e isso tinha mais chances de ser a origem das dores no ombro do que as partidas de vôlei.

Voltando à obviedade, eu não tinha nenhuma capacidade especial que os outros alunos careciam. O que facilitava para mim era que eu vim de um contexto familiar e de uma formação religiosa muito centrados na caridade e no amor ao próximo. E Design é uma área que se beneficia muitíssimo da empatia. Na essência, o que era óbvio para mim é que as pessoas deveriam estar bem para trabalharem bem.

Ao longo dos anos, percebi que algumas lições te dão a oportunidade de serem reaprendidas. Fiz judô dos 15 aos 18 anos, e um comentário recorrente sobre a faixa preta era que “você reconhece que não sabe nada, e recomeça seu aprendizado”. A título de curiosidade e ao contrário do que imaginam, a última faixa do judô é a vermelha, e o conceito por trás das graduações era que você retornasse ao princípio, porém com a sabedoria de todo o conhecimento desenvolvido. O que quero dizer com isso é que por mais que você tenha aprendido uma lição, a experiência e a sabedoria dos anos te farão reavaliar esse conhecimento em algum momento, com a oportunidade de evoluir se você não estiver sob efeito da cegueira da obviedade.

E isso é sensacional! Talvez você já conheça o Monomito ou Jornada do Herói ou tenha assistido ou escutado alguma reflexão sobre ele. O importante dessa referência é que a partir do momento que subimos um pouquinho nessa escalada de conhecimento e sabedoria, não somos mais os mesmos e transformamos ciclos em espirais. Então, se me permite um conselho, sempre que você pensar “Isso é óbvio!”, que tal se permitir um pouco mais e avaliar o que ali pode te ensinar algo novo?

Deixe um comentário